Ter uma marca internacionalmente reconhecida, novas fontes de faturamento blindadas contra instabilidades econômicas e reduzir custos em função de escalar a produção com apenas pequenas adaptações.
Esse é um sonho da maioria dos empreendedores brasileiros que são donos de pequenas e médias empresas brasileiras. Mas as pessoas que estão à frente de seus negócios ainda pensam que essa conquista é restrita às grandes corporações.
Embora essa premissa possa, a princípio, parecer verdadeira, a internacionalização está cada vez mais próxima da realidade das empresas menores.
Já é possível acompanharmos empreendimentos nacionais ganhando o mundo, como a Buscapé. Criada em 1999 por um grupo de estudantes, a plataforma que mostra comparações de preços para os mesmos produtos está presente na Argentina e Chile.
A também brasileira Easy Taxi, responsável por criar um aplicativo que milhares de pessoas usam no dia a dia para pedir táxi pelo celular, está presente em 12 países da América Latina.
E a Hotmart, uma plataforma gratuita para hospedagem e venda de cursos online, mantém 3 escritórios espalhados pelo mundo e tem clientes em 170 países.
Atingir números expressivos como esses obtidos por essas 3 empresas motiva a maior parte dos empreendedores a seguir o mesmo caminho.
Mas para seguir por esse promissor caminho, é preciso encarar obstáculos.
Os desafios da internacionalização para as pequenas
A falta de conhecimento sobre os mercados nos quais as empresas irão atuar e ainda os desejos e anseios dos potenciais clientes também podem ser verdadeiros entraves ao desenvolvimento internacional dos empreendimentos de menor porte.
O grande desafio é estabelecer parcerias ou contratar recursos locais para trabalhar com vendas no país destino. Um vendedor que trabalha por comissão (“sales agent”) é uma das alternativas para empresas que podem investir pouco. Outra alternativa é contratar funcionários para atuar em vendas localmente. Esse time de vendas atuaria para marcar reuniões para apresentação das soluções e gerar novas oportunidades de negócios.
Ações de vendas são mais desafiadoras para as pequenas empresas brasileiras do que a parte de conhecimento técnico. As startups brasileiras tem conhecimento suficiente para exportar e se estabelecer em novos mercados no exterior. Como diz Guilherme da Silva, CEO da ATS, empresa brasileira participante do StartOut: “O Brasil no setor aeronáutico não deve para nenhum país. É excepcional. Nossa mão de obra da indústria e das universidades é extremamente qualificada. Somos diferentes da Índia, Turquia, Japão e China pois somos mais maduros no ciclo de desenvolvimento de produto e nos processo de certificação. Pelo conjunto custo e qualidade, somos imbatíveis.”
A virada do jogo
Mas para mudar esse cenário, surgiu o StartOut Brasil, uma iniciativa do Governo Federal que leva 60 startups por ano para vários países do mundo, como Argentina, França e Estados Unidos, com a meta de maximizar o volume de negócios de startups com o exterior.
Esse programa tem como principal objetivo apoiar a inserção de startups brasileiras promissoras nos mais favoráveis ecossistemas de inovação do mundo.
Estão envolvidos nessa iniciativa a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o Sebrae, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) e o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
O Programa é composto por ciclos de imersão, que duram de 6 a 8 semanas. Neste período, os empreendedores passam por uma verdadeira bateria de novos conhecimentos e experiências, que incluem desde consultoria especializada em internacionalização, passando pelo acesso à plataforma “Passaporte para o Mundo”, da Apex Brasil, conexão com mentores que já conhecem o ecossistema de destino, workshop presencial até sessões online de treinamento de pitch.
Depois dessa maratona, as startups ficam com seus planos de negócios (“pitch decks”) e com a estratégia de entrada no mercado internacional já prontos.
Então, os empreendedores seguem para uma Missão no país de destino. Já acomodados em solo estrangeiro, as startups continuam tendo a oportunidade de avançar mais uma vez na internacionalização do negócio, vivenciando experiências únicas, como participar de treinamento de pitch internacional, seminário de oportunidades, rodada de reuniões com prestadores de serviços locais e visitas às corporações com estratégia de inovação aberta, aceleradoras e startups de destaque.
E para completar a total integração com o ecossistema do país de destino, os empreendedores são apresentados a outros empreendedores brasileiros que já conhecem bem aquele ambiente. Além desse apoio, as pessoas que seguiram na Missão também são apresentadas à potenciais investidores.
E até mesmo depois do retorno da Missão, as startups também recebem acompanhamento personalizado em consultorias e, se precisarem, recebem apoio para instalar-se no país de destino, bem como promover a exportação do seu produto ou serviço.
O Desenvolvimento de Startups Brasileiras
O programa StartOut não tem custo aos participantes. Eles arcam somente com as despesas de viagem, hospedagem e alimentação para a imersão no país destino.
Mas para fazer parte dessa Iniciativa, os empreendedores precisam se inscrever no Programa e serem aprovados em uma rigorosa seleção, que avalia vários requisitos do negócio, como modelo de negócio, qualificação da equipe, grau de inovação, maturidade e os objetivos da inserção internacional.
Após o parecer de uma banca técnica internacional, são escolhidas apenas 15 startups para cada Missão. Todas as startups aprovadas precisam destinar tempo, dedicação e pessoas da equipe para participarem de todos os processos definidos pelo StartOut.
Impreterivelmente, os destinos de todas as missões são cuidadosamente escolhidos considerando a existência de um ambiente de investimentos para startups estrangeiras.
Destinos explorados
São realizadas periodicamente ciclos ao longo do ano. Em 2017, foram organizadas missões para Buenos Aires e França. Já neste ano, a primeira missão foi para Berlim. E, agora, neste segundo semestre, o destino é Miami.
Apesar de ser conhecida como uma cidade de praia e veraneio, inclusive, escolhida como destino de férias por muitos brasileiros, Miami também está se transformando em uma referência quando o assunto é empreendedorismo. Já são mais de 1.200 startups presentes no local.
Ela tem diversos aspectos que favorecem a chegada de novas startups estrangeiras, como habitação acessível e sem impostos estaduais ou municipais. Inclusive, Miami-Fort Lauderdale foi reconhecida pelo Kauffman Foundation Index, que monitora a criação de novos empreendimentos, como uma região metropolitana forte para atividade de startups, à frente de Austin, Los Angeles, San Diego e Las Vegas.
Foram mais de US$ 700 milhões nos últimos 12 meses levantados em fundos de investimento para startups, além do crescimento de investidores anjo e localização estratégica da cidade, que está posicionada como porta de entrada para outras regiões dos Estados Unidos e também para a América Latina.
Quem está a um passo da internacionalização
Uma entre as 15 startups selecionadas pelo StartOut neste segundo semestre para o Ciclo de Imersão em Miami é a Aerothermal Solutions and Software Distributor LLC. Localizada em São Paulo e há 11 anos no mercado brasileiro, e em Miami há 8 meses, a startup combina técnicas computacionais com a metodologia da engenharia tradicional para oferecer resultados confiáveis e precisos aos seus clientes.
A ATS trabalha com engenharia com simulações para a indústria aeroespacial e pesada. Ela já tem na carteira de clientes grandes e influentes empresas do cenário brasileiro, como Embraer, Avibrás, Marinha do Brasil, Força Aérea, Braskem, Ultragás, Vale, Queiroz-Galvão e Petrobrás, mas planeja conquistar um novo patamar no mercado internacional a partir de agora.
Embora já tenha uma filial instalada em Miami, FL, para a venda de serviços de engenharia e simulação nas áreas de fluidodinâmica computacional (CFD) e de análises estruturais (FEA), a ATS enxergou a oportunidade proporcionada pelo StartOut como o passaporte para a conquista de novos clientes nos EUA. “O Ciclo Miami nos permitirá o início da nossa inserção definitiva no mercado americano e nos dará ferramentas para explorar o mercado em termos de Marketing e Vendas”, acredita Guilherme Araújo Lima da Silva, CEO da ATS.
Essa oportunidade de consolidar-se como uma empresa internacional chega também como uma chance de fortalecer ainda mais a marca da startup. “Temos respaldo técnico e excelência comprovada em função da nossa experiência com grandes corporações aqui, no Brasil, para atender o mercado americano, mas é importante aprimorarmos a nossa capacidade de prospectar clientes internacionais, entender onde e como procurar, compreendendo melhor esse mercado”, pondera Silva.
A ATS
A ATS atua na indústria aeroespacial desde o pré-projeto, com estudos conceituais, passando pelas fases do produto, planejamento e ensaios até a análise dos resultados. As resoluções de problemas feitas pela ATS abrangem engenharia de sistemas fluidos, mecânicos e térmicos; ensaio e voo solo; estruturas e aerodinâmica.
Um dos lemas da ATS é trabalhar incessantemente para proporcionar soluções inovadoras na resolução de problemas reais dos clientes. Para isso, ela participa de programas de pesquisa com universidades, órgãos do governo, forças de defesa e empresas.
Sobre o StartOut
Além da ATS, também estão participando do Ciclo Miami as seguintes startups: Portal Telemedicina, Take, VG Resíduos, Flex Interativa 360 Tecnologia da Informação, Mogai Information Tecnology, Tracksale, AgileMs, Kryptus, Labsoft Tecnologia, I.Systems, TruckPad, Aya Tech, Fastdezine e Molegolar.
As startups estarão em Miami de 09 a 14 de setembro e passaram pela capacitação e monitoria em São Paulo entre 16 de julho e 31 de agosto. Já o resultado da seleção, foi divulgado em 13 de julho.
Para saber mais
StartOut: https://www.startoutbrasil.com.br
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